Um tema central em Safety Differently (Dekker, 2015), Safety II (Hollnagel, 2015) e no Human and Organizational Performance (HOP) é a necessidade de mudar o foco para a nossa capacidade de desempenho. Essa mudança de mentalidade já foi adotada por grandes empresas ao redor do mundo, nos últimos 15 anos, e nos permite dar um passo além da segurança tradicional, que costuma se concentrar apenas no que está dando errado.
A velha mentalidade: Segurança-I
Na abordagem convencional, chamada de Segurança-I, a segurança é vista como a ausência de acidentes ou incidentes. Se nada deu errado, estamos seguros. Essa visão limita o potencial, pois induz que os seres humanos, ao serem variáveis, são os maiores culpados pelos erros. Isso se reflete nas análise de acidentes com a classificação de ato inseguro ou condição insegura ou a própria descrição do evento já sugere que a causa raiz é a pessoa, sem considerar os influenciadores no CONTEXTO.
Uma nova forma de pensar: Segurança-II e HOP
Praticada há mais de 15 anos por poucas empresas no planeta, recentemente ganhou impulso a Segurança-II, nos ensinando que, em vez de tratar as pessoas como o problema, devemos vê-las como a solução.
Dekker (2015) destaca que as pessoas são fontes de diversidade, percepção e criatividade – tudo isso essencial para a segurança e a melhoria contínua. Ele sugere que, ao invés de buscar culpados, precisamos ajustar o CONTEXTOem que as pessoas operam.
O CONTEXTO é o grande influenciador para as escolhas e os comportamentos realizados pelos trabalhadores. Outra conexão para CONTEXTO são os fatores humanos.
Essa mudança de mindset é profunda. Em vez de focar em investigar acidentes para encontrar culpados, a proposta é analisar os processos para identificar o que podemos aprender e melhorar.
Todd Conklin e o foco na Capacidade
Todd Conklin também reforça essa necessidade de repensar a segurança. Para ele, a segurança não é a ausência de acidentes, mas sim a presença de capacidade. Ou seja, é necessário desenvolver a habilidade das pessoas e sistemas funcionarem bem, mesmo em cenários adversos.
Elevando Programas de Segurança por 35 anos, verifiquei que a maioria dos programas tradicionais e/ou comportamentais de segurança falha por focar excessivamente em inspecionar, observar o comportamento dos trabalhadores e dar feedback, mas sem entender os dados críticos. É nesses dados que está o verdadeiro valor – neles podemos identificar os influenciadores chave do ambiente, o famoso “CONTEXTO” ou “fatores humanos”.
Liderança é e sempre foi a Chave
Estudos comprovam que a liderança é o principal fator que impulsiona o desempenho da equipe. Em 2010, foi publicado um estudo intitulado “How Effective Leadership Practices Deliver Safety Performance AND Operational Excellence”, que revelou descobertas surpreendentes:
- Ao contrário do pensamento convencional, o melhor desempenho da equipe não é alcançado através de uma maior gestão das três primeiras dimensões de desempenho (produção, recursos e processos).
- Mais de 70% do desempenho da equipe é impulsionado pela liderança – mais especificamente, pelos líderes operacionais.
- As mesmas práticas de liderança que geram resultados em segurança também impulsionam todas as outras áreas de desempenho da equipe.
- O que normalmente medimos com os KPIs convencionais não captura esses 70% influenciados diretamente pela liderança.
Esses achados desafiam a gestão tradicional e destacam que o verdadeiro motor do desempenho é a liderança, e não apenas a gestão de processos.
O que faz a diferença na liderança?
Judith Komaki, na área de Comportamento Organizacional, através de anos de pesquisa nos traz muita clareza, em seu livro “Leadership: The Operant Model of Effective Supervision (People and Organizations)”. Algumas conclusões sobre o que fazem os líderes mais efetivos:
- Dedicam mais tempo monitorando (observando diretamente e conversando sobre desempenho).
- Iniciam o monitoramento desde o primeiro instante das interações sociais.
- Estimulam o time a conversar sobre o seu próprio desempenho (reuniões com foco em desempenho).
- Dão significativamente mais feedback.
Essas práticas são as mesmas que aplico em todos os meus programas e mentorias, sempre com resultados positivos e validados pela ciência.
A 4ª Dimensão: Pessoas
O verdadeiro diferencial não está apenas nos processos ou sistemas, mas nas pessoas.
É a liderança que desbloqueia o potencial humano, influenciando o desempenho de maneira sustentável.
Quando os líderes adotam práticas efetivas e compreendem como aplicá-las, eles criam ambientes que não só mantêm a segurança, mas que florescem em todas as áreas.
Se você quer construir uma cultura de Segurança Diferente, comece entendendo o que os líderes fazem e, mais importante, como eles fazem isso.
Esse é o primeiro de uma série de artigos onde compartilho as práticas de liderança que descobrimos ser cruciais para criar um desempenho sustentável.
Se você quer saber mais sobre como os líderes criam um desempenho de excelência em segurança e outras áreas,
Para saber mais, acesse o nosso blog em https://carlosmassera.com.br/artigos/ e o canal do Youtube @comportamentoseguro
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